quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Portugal, um país em vias de subdesenvolvimento

Portugal, um país em vias de subdesenvolvimento

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução? a Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2012 às 11:50 ·
             Pedro Passos Coelho parece-me ser uma pessoa com convicções fortes e determinado a seguir um rumo que ele entende ser aquele capaz de retirar o país da caótica situação económica em que sem encontra, seguindo um modelo inspirado na escola neoliberal, ou talvez ultraliberal que por sua vez se inspirou na doutrina de Adam Smith do século XVIII, a qual não se mostrou capaz de resolver os problemas da economia e proporcionou um terreno para desenvolver uma doutrina de carácter contrário defendida por Marx no século XIX. Num sentido de aprimorar os conceitos, no final do século XX o liberalismo evoluiu para o neoliberalismo e o marxismo para a terceira via de Tony Blair.
            A crise que estamos a viver resulta essencialmente da saturação do endividamento promovido pela banca, que irresponsavelmente concedeu créditos com uma ganância suicidária, do ataque do dólar face ao euro e da falta de uma liderança que unifique o projecto europeu, em contraponto a um exacerbar dos nacionalismos que separam os europeus em bons e maus alunos da escola ariana.
           Vivemos uma situação dramática em que precisamos que o exterior financie a nossa economia, pois caso contrário não há dinheiro para pagar salários e pensões, sendo que para o conseguir é necessário honrar os compromissos assumidos com a chamada “troika,” no sentido de reequilibrar as contas públicas gastando menos.
           A receita do FMI para Portugal é semelhante à aplicada na Grécia e também na Irlanda – se bem que a situação da Irlanda seja totalmente diferente pois resulta de um problema conjuntural e não estrutural - porém, um excesso de austeridade gera uma recessão incontrolável que vai acabar por tornar impossível o pagamento aos credores nas condições negociadas.
            Podemos dizer que a culpa do estado a que chegamos é de José Sócrates, mas não podemos negar que a substituição do governo socialista da Grécia por um governo tecnocrático do agrado de Berlim e Paris não está a servir para nada. A Grécia caminha a passos largos para uma bancarrota adiável, mas inevitável, a qual vai causar certamente a efeitos colaterais em toda a Europa, principalmente em Portugal e restantes PIGS, não sendo de excluir uma desvalorização do Euro por falta de confiança dos investidores estrangeiros na moeda única.
            Assumidamente a estratégia de Pedro Passos Coelho para resolver os problemas estruturais de Portugal, é a via do subdesenvolvimento, do empobrecimento forçado e duma protecção social excessiva que tem de ser reduzida, materializada para já num acordo de concertação social que promove o desemprego e a precariedade, celebrado com o aval da UGT. Para Passos Coelho a salvação de Portugal passa por um Estado mínimo, por trabalho escravo,trabalho este que se deve aproximar cada vez mais das condições de trabalho da China e da Índia.
            Empobrecer, mas quanto?
            O Primeiro-ministro foi claro: Custe o que Custar!
            Custe o emprego, custe a dignidade, custe a família, custe a escola, custe a protecção social, custe mesmo a vida...
            Para Passos Coelho e assessores não há limite quantificável para o que temos de empobrecer.
            Temos?
            Sim, temos! Porque os seus amigos da grande finança nada têm a temer. Quem tem que pagar a crise empobrecendo miseravelmente é o povo e a classe média que caminha para a extinção!
            Todos os dias somos confrontados com notícias que confirmam um ataque sem quartel à classe média, que corte após corte, vê o seu salário reduzido de forma dramática, confrontada com o facto de não poder honrar os seus compromissos por alteração unilateral por parte do Governo de regras estabelecidas na Constituição Portuguesa. É um fenómeno recentemente tratado por Elísio Estanque, fenómeno esse que tende a piorar pois o governo vê na classe média a galinha dos ovos de ouro para pagar a factura da crise, sendo que esta classe que não beneficia de quaisquer apoios sociais, é sobrecarregada de impostos e vê-se de repente sem direito a nada. Além disso parece-me difícil aumentar a produtividade com incentivo negativos para quem trabalha que só favorecem a desmotivação.
            Exigir sacrifícios é aceitável quando isso serve para alguma coisa, mas é uma loucura exigir sacrifícios para pedir novamente sacrifícios, num ciclo de empobrecimento que certamente o vai deixar tristemente célebre na História de Portugal.
            A Europa e o mundo ocidental vivem uma crise gravíssima, de contornos inimagináveis e de desfecho trágico mas imprevisível.
            Portugal e a Europa precisam urgentemente de um Plano B, pois está mais que provado que o plano A de Austeridade, não vai funcionar, o plano C ainda está longe no horizonte, restando depois apenas o plano D de Desespero.
            Se a miséria progredir com temo que vá progredir, o povo não vai aguentar e vai sair para a rua sem controlo para fazer justiça pelas próprias mãos. Se não se conseguir inverter a espiral de empobrecimento, fome e miséria a tempo de se evitar essa fase, a classe política que abandone o país, porque o novo 25 de Abril vai ser vermelho não de cravos, mas de sangue.
            Passos Coelho foi eleito para resolver uma grave situação de crise. Pode ser obstinado e levar avante as suas reformas, custe o que custar, obrigar-nos a trincar a língua e chamar-nos piegas. Não pode é falhar!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Carnavais

Carnavais

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução?, sábado, 4 de Fevereiro de 2012 às 03:46
           A declaração do Primeiro-ministro dada a 3 de Fevereiro de 2012 de que não iria conceder Tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval dia 21 do mesmo mês é um sinal preocupante de impreparação do actual governo de Portugal. É evidente que quase ninguém compreenderia que um Governo que se propõe eliminar feriados simbólicos e relevantes para a Pátria, alinhasse com brincadeiras de Carnaval. O que não aceito é que o Governo de Portugal governe Portugal em perfeito espírito carnavalesco, sem rumo, sem soluções, cego, surdo, rumo a um abismo inevitável.
            Já todos sabemos que a tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval é uma tradição bem antiga e que algumas autarquias investem somas fabulosas em desfiles agendados para esse dia. Se o Governo entendia, e bem a meu ver, que este ano não seria concedida a habitual tolerância de ponto, deveria tê-lo feito atempadamente, antes do término do ano transacto, de modo a que as autarquias se preparassem e alterassem as datas dos desfiles para o domingo em vez de o fazerem na terça-feira. O Governo fez exactamente o contrário, discutiu a paulatinamente abolição dos feriados quando de repente se dá conta de que está a duas semanas do Carnaval e só nessa altura se lembra de avisar os portugueses de que não iria dar a habitual tolerância de ponto, com todas as consequências negativas e graves prejuízos económicos que a não atempada decisão iria causar. Este gesto é mais uma demonstração do perfeito espírito de improviso de um Governo que não sabe o que quer, ou se sabe o que quer não sabe como lá chegar, o que é dramático quando vemos o país a caminhar a passos largos para o abismo, seguindo-se a outros acto improvisados de avanços e recuos de que relembro a taxa social única, a meia hora de trabalho extraordinária no sector privado, as taxas moderadoras, o valor das horas extraordinárias na saúde, passando por episódios rocambolescos como o uso da gravata no Ministério da Agricultura.
            Nunca é demais relembrar que este actual Governo de Portugal resulta de um verdadeiro golpe de estado institucional patrocinado pelo actual Presidente da República, o qual fez os possíveis para correr à vassourada o Governo do Partido Socialista, invocando valores e razões que o tempo demonstrou que não passam de uma falácia.
O Presidente da República é o político que mais tempo esteve no poder, com mais responsabilidades na actual situação em que o país se encontra, que governou Portugal no tempo em que o dinheiro caía do céu às pazadas para ir cair na mão de amigos ou pseudo-amigos e que tem o brilhante curriculum de ter já conseguido “arrumar” com dois Primeiros-ministros, Sócrates e Santana Lopes, escorraçando o seu partido do poder numa altura em isso lhe seria conveniente para ter mais probabilidades de realizar a sua secreta ambição de ser Presidente da República, talvez dando corpo a um secreto desejo de ser o “Salazar” da Democracia.
            O navio tem o casco rombo e vai afundar. Provavelmente Passos Coelho - que me parece ser um político relativamente sério e com real vontade de mudar o país, apesar de não me rever nas suas opções politicas – não irá seguir os passos do seu antecessor, o nosso “Schettino”  que saltou borda fora rumando a Bruxelas e deixou o imediato ao leme. Não basta porém a ambição de mudar Portugal, se não José Sócrates já o teria feito. É preciso estar preparado, conhecer o terreno, ter sensibilidade social, faro político, capacidade negocial, espírito inovador, capacidade motivadora de novos comportamentos, visão estratégica perante e educação, cultura e sobretudo ter a noção de que apostar no bem-estar social não é um custo, é um investimento.
            Já é quase um dado adquirido que com este governo não vamos lá. Espero e desejo que o Partido Socialista seja capaz de compreender os desafios que tem pela frente, a capacidade de compreender que o mundo mudou e vai ainda mudar mais, que é necessário definir um novo patamar de serviços e de consumo que seja sustentável, que não entregue ao exterior sectores chave para a nossa auto-suficiência, que seja capaz de fazer cá dentro os bens essenciais que necessitamos no nosso dia-a-dia, que valorize o trabalho, que erradique a cultura do novo-riquismo saloio que nos põe a viver acima das nossas possibilidade, que crie uma mão-de-obra que seja uma mais-valia pela sua competência e não pelo seu custo, que seja capaz de entrar em mercados externos sem fugir ao fisco nacional, que combata a fraude e a evasão fiscal, que crie uma cultura que valorize a cidadania e o respeito pelo bem comum, pois caso contrário, com ou sem tolerância de ponto, o Carnaval vai continuar na política portuguesa.