sábado, 4 de fevereiro de 2012

Carnavais

Carnavais

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução?, sábado, 4 de Fevereiro de 2012 às 03:46
           A declaração do Primeiro-ministro dada a 3 de Fevereiro de 2012 de que não iria conceder Tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval dia 21 do mesmo mês é um sinal preocupante de impreparação do actual governo de Portugal. É evidente que quase ninguém compreenderia que um Governo que se propõe eliminar feriados simbólicos e relevantes para a Pátria, alinhasse com brincadeiras de Carnaval. O que não aceito é que o Governo de Portugal governe Portugal em perfeito espírito carnavalesco, sem rumo, sem soluções, cego, surdo, rumo a um abismo inevitável.
            Já todos sabemos que a tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval é uma tradição bem antiga e que algumas autarquias investem somas fabulosas em desfiles agendados para esse dia. Se o Governo entendia, e bem a meu ver, que este ano não seria concedida a habitual tolerância de ponto, deveria tê-lo feito atempadamente, antes do término do ano transacto, de modo a que as autarquias se preparassem e alterassem as datas dos desfiles para o domingo em vez de o fazerem na terça-feira. O Governo fez exactamente o contrário, discutiu a paulatinamente abolição dos feriados quando de repente se dá conta de que está a duas semanas do Carnaval e só nessa altura se lembra de avisar os portugueses de que não iria dar a habitual tolerância de ponto, com todas as consequências negativas e graves prejuízos económicos que a não atempada decisão iria causar. Este gesto é mais uma demonstração do perfeito espírito de improviso de um Governo que não sabe o que quer, ou se sabe o que quer não sabe como lá chegar, o que é dramático quando vemos o país a caminhar a passos largos para o abismo, seguindo-se a outros acto improvisados de avanços e recuos de que relembro a taxa social única, a meia hora de trabalho extraordinária no sector privado, as taxas moderadoras, o valor das horas extraordinárias na saúde, passando por episódios rocambolescos como o uso da gravata no Ministério da Agricultura.
            Nunca é demais relembrar que este actual Governo de Portugal resulta de um verdadeiro golpe de estado institucional patrocinado pelo actual Presidente da República, o qual fez os possíveis para correr à vassourada o Governo do Partido Socialista, invocando valores e razões que o tempo demonstrou que não passam de uma falácia.
O Presidente da República é o político que mais tempo esteve no poder, com mais responsabilidades na actual situação em que o país se encontra, que governou Portugal no tempo em que o dinheiro caía do céu às pazadas para ir cair na mão de amigos ou pseudo-amigos e que tem o brilhante curriculum de ter já conseguido “arrumar” com dois Primeiros-ministros, Sócrates e Santana Lopes, escorraçando o seu partido do poder numa altura em isso lhe seria conveniente para ter mais probabilidades de realizar a sua secreta ambição de ser Presidente da República, talvez dando corpo a um secreto desejo de ser o “Salazar” da Democracia.
            O navio tem o casco rombo e vai afundar. Provavelmente Passos Coelho - que me parece ser um político relativamente sério e com real vontade de mudar o país, apesar de não me rever nas suas opções politicas – não irá seguir os passos do seu antecessor, o nosso “Schettino”  que saltou borda fora rumando a Bruxelas e deixou o imediato ao leme. Não basta porém a ambição de mudar Portugal, se não José Sócrates já o teria feito. É preciso estar preparado, conhecer o terreno, ter sensibilidade social, faro político, capacidade negocial, espírito inovador, capacidade motivadora de novos comportamentos, visão estratégica perante e educação, cultura e sobretudo ter a noção de que apostar no bem-estar social não é um custo, é um investimento.
            Já é quase um dado adquirido que com este governo não vamos lá. Espero e desejo que o Partido Socialista seja capaz de compreender os desafios que tem pela frente, a capacidade de compreender que o mundo mudou e vai ainda mudar mais, que é necessário definir um novo patamar de serviços e de consumo que seja sustentável, que não entregue ao exterior sectores chave para a nossa auto-suficiência, que seja capaz de fazer cá dentro os bens essenciais que necessitamos no nosso dia-a-dia, que valorize o trabalho, que erradique a cultura do novo-riquismo saloio que nos põe a viver acima das nossas possibilidade, que crie uma mão-de-obra que seja uma mais-valia pela sua competência e não pelo seu custo, que seja capaz de entrar em mercados externos sem fugir ao fisco nacional, que combata a fraude e a evasão fiscal, que crie uma cultura que valorize a cidadania e o respeito pelo bem comum, pois caso contrário, com ou sem tolerância de ponto, o Carnaval vai continuar na política portuguesa.

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