sábado, 9 de junho de 2012

A passos da bancarrota



A Grécia está a poucos passos da bancarrota. Espanha está a poucos passos de pedir ajuda externa. Portugal está a poucos passos de caminhar para a tragédia grega. Portugal é um misto de fé e de fado. Foi a fé de um jovem e inexperiente político que nos conduziu a Alcácer-Quibir. É o fado que canta os desencantos deste esquecido e atrasado canto da Europa. 
Penso que muita gente ainda não se apercebeu do que está em causa nas finanças públicas portuguesas. Se por algum motivo cessarem as transferências periódicas dos fundos que constituem o resgate de Portugal o sistema económico entra imediatamente em colapso, levando o país à bancarrota. Nessa altura o Estado deixará de poder pagar os vencimentos dos seus funcionários, as encomendas dos fornecedores, as pensões e demais ajudas sociais, simplesmente porque fica com o saldo da sua conta a 0 euros (fora as dívidas)!
Os governantes de Portugal têm uma pistola apontada à cabeça e isso deixa-os de pés e mãos atadas. Podemos optar pelo “não pagamos”, mas temos de perceber que estamos a optar igualmente pelo “não recebemos”. Se deixarem de nos emprestar dinheiro para garantir as despesas correntes, a única solução possível é a imediata emissão de moeda nacional que permita as transacções internas, mas que não vai ter qualquer valor além-fronteiras. Deixamos de poder importar electricidade, combustíveis, medicamentos e, o que é mais grave, alimentos! Como será o dia seguinte ao dia de não receber?
É fácil exigir direitos, mas todos os direitos têm um custo e parte desse custo é económico! Temos de encontrar um novo equilíbrio que torne a nossa economia sustentável, temos de produzir a maioria do que consumimos, temos de ser melhores do que os outros se queremos exportar, sendo que para ser melhores temos de valorizar o trabalho e a competência deixando de nos contentar com um pseudo-igualitarismo medíocre, invejoso e ignorante que só serve os oportunistas.
Temos de procurar ser bons naquilo que fazemos e não apenas passear vaidades. A catástrofe social aproxima-se a passos largos. Para já a crise têm castigado apenas a classe média, poupando os mais pobres, mas à medida que se vai proletarizando a classe média cai o consumo, diminui a receita fiscal e aumenta o desemprego, ficando cada vez menos pano para cobrir uma mancha cada vez maior de carenciados.
Precisamos de soluções inovadoras, mas expulsamos do país os melhores quadros, ficando cada vez com mais lastro inútil que só consome e nada produz. Paradoxalmente, é contudo este lastro imbecilizado que se ri da crise e mantém o seu estilo de vida pacóvio num circo que cada vez mais se torna cerco, embriagados pelo maldizer que nada constrói, entretidos em Futebol Futilidades e Festivais, os 3 F do século XXI, à espera de um Messias que resolva os problemas que só a eles compete resolver.
Temos de partir de pequenas ideias que vamos aglutinando em crescendo até criar a máquina imparável que possa abrir novos horizontes capazes de nos salvar do precipício onde fomos lançados, a exemplo do que fizemos há 500 anos quando demos novos mundos ao mundo.
Ou então, esperar pelo estatelar pré-anunciado dos nosso corpos no fundo do abismo... 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

38 Anos depois, o que ainda resta das conquistas do 25 de Abril?


A canção “E depois do Adeus” interpretada por Paulo de Carvalho foi o sinal que deu início à revolução de 25 de Abri de 1974l terminando com uma ditadura de  48 anos para instaurar em Portugal um regime democrático.
Em 1974 a Democracia herdou um Portugal rico em ouro mas estruturalmente pobre, rural, analfabeto sem infra-estruturas sanitárias, viárias e outras, que reivindicava suas terras de outras gentes, querendo manter um império numa altura em que as grandes potencia já tinham procedido à descolonização. O 25 de Abril quebrou amarras com o passado e procurou dar aos portugueses uma vida digna, na qual os direitos fundamentais fossem garantidos para todos, tendo como bandeiras de uma liberdade a sério a paz, o pão, a habitação, a saúde e a educação.
Passados 38 anos o 25 de Abril volta a ter um protagonismo pouco habitual nos anos anteriores, pois vários portugueses se viram confrontados com uma prática política que nada tem a ver com a revolução dos cravos, levando-os a questionar que tipo de Democracia é esta que escraviza os trabalhadores, destrói o Estado Social e esquece os direitos básicos dos cidadãos.
Como foi possível este trajecto que permitiu com passividade sermos desgovernados por políticos elaborados pelo marketing, extraídos directamente da carreira partidária com pouco ou nenhum capital profissional conhecido fora do seu círculo de amizades para satisfazer os vorazes desejos duma clientela cega perante as dificuldades de quem tem que lutar anos e anos com o dia-a-dia, surda perante quem está no terreno a lidar com os problemas e arrogante perante aqueles a quem devia servir?
Com que direito se expulsa para emigração jovens que batalharam para tirar um curso com pouco mais de 20 anos quando os políticos que dirigem os destinos do país só os completaram perto dos 40?
É preciso fazer acordar Portugal. 800 anos de história não se podem deixar humilhar assim tão facilmente. A Democracia só existe se o povo não abdicar da sua força e da sua capacidade para mudar o rumo à História. A Democracia existe para servir o povo e não para servir os que se servem do povo para viver à sua custa, subindo a escada do poder à custa da despudorada venda de ilusões que acabam sempre por revelar a face da mentira.
A Democracia não pode ser utilizada como meio do povo se flagelar a si próprio. Mudar o destino do país está e sempre estará nas mãos do povo. Mais que uma revolução de armas é fundamental uma revolução de mentalidades. Não podemos estar sempre à espera dum D. Sebastião que venha resolver os nossos problemas e dificuldades pois esse tipo de salvadores da pátria só nos leva a Alcácer-Quibir. É preciso mais cidadania, mais intervenção, mais conhecimento dos problemas, mais audácia para sair do atoleiro onde nos encontramos. E coragem para dizer “Basta”.
25 de Abril é sempre que o povo quiser.
25 de Abril é sempre que o povo ousar tirar o chicote a quem o açoita sem respeito.
25 de Abril pode ser hoje, amanhã, daqui a um mês, um ano, 10 anos, mas há-de voltar a ser!... 

sábado, 14 de abril de 2012

Identidade Mediterrânica, um factor a potenciar

            Os povos do sul da Europa, nos quais se tem de incluir a França, por mais que ela queira fugir ao seu destino e identidade, têm um património cultural, biológico, social e cultural que os deve unir, em vez de os afastar.
            A nossa civilização cresceu e desenvolveu-se na bacia mediterrânica, primeiro no Médio Oriente, onde nasceram as primeira civilizações, depois no Egipto, para atingir a sua grande explosão na civilização Grega, a qual nos trouxe importantes contributos quer a nível da Artes, quer a nível das Ciências, de que são exemplos a Medicina, a Filosofia, a Física, a Astronomia, a Matemática, a Politica e nos trouxe sobretudo a Democracia.
            O império Romano, que lhe sucedeu, trouxe um modelo de administração, uma língua, um padrão que marcou definitivamente os povos que viveram dentro dos seus domínios.
            A invasão dos bárbaros do centro da Europa apenas trouxe as trevas da Idade Média.
            Foi a audácia e o espirito inovador dos Portugueses que levaram a que estes se metessem em pequenas embarcações para descobrir novos mundos fora da Europa, palco de guerras sucessivas, saturada por um feudalismo belicista que escravizava as populações, descobrindo o nosso país a sua vocação atlântica, a qual volta a fazer cada vez mais sentido neste pobre canto esquecido e humilhado da Europa.
            Também a nossa vizinha Espanha, teve um papel igualmente grande nesta descoberta de novos mundos, sendo responsável pela descoberta da América e pela iberização da América Central, de grande parte da América do Sul e de uma porção cada vez maior dos Estados Unidos da América.
            Podemos dizer com orgulho que os povos Ibéricos abriram novos horizontes, expandido o mundo conhecido, exportando a nossa cultura língua e valores para vários continentes, dando origem a novos países, realizando a primeira e verdadeira globalização.
            A revolução francesa trouxe o povo ao poder, projectando de forma ímpar os ideais da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, bem queridos da Esquerda mundial e que a Direita nunca teve a coragem de contrariar assumidamente, se bem que o faça de uma forma encoberta.
            E a Alemanha? A arrogância alemã trouxe ao mundo dois sangrentos conflitos de que saiu sempre humilhada e destruída, uma lição que não deveria nunca esquecer.
            Foi precisamente o efeito devastador da segunda guerra mundial que esteve na origem da criação duma comunidade europeia que pudesse servir de tampão a qualquer desejo expansionista e belicista que voltasse a trazer a dor da guerra mais uma vez a este continente.
            Hoje em dia a União Europeia está dividida em PIIGS e não PIIGS. Penso que é chegada a hora dos PIIGS levantarem a sua cabeça, honrarem o seu passado e dar um murro na mesa - e se preciso um pontapé - nesta Europa que os rejeita, para se unirem em torno dum plano comum que torne novamente válido o projecto Europeu.
            É minha convicção de que se os países latinos do sul da Europa (PIIGS + França) se organizarem em bloco e agirem em conjunto, podem funcionar como um novo um gigante cultural, económico e militar com capacidade para se afirmar autonomamente num mundo globalizado, com capacidade para sobreviver a uma Europa utópica, germanocêntrica e cada vez mais nacionalista, que se afunda de dia para dia.
            

segunda-feira, 12 de março de 2012

12M. Um ano... e depois?



            Passou um ano sobre o 12M e o que mudou?
            Chegou a Direita ao poder!
            Em Portugal e em Espanha!
            Como é que a revolta de jovens, mas não só, de trabalhadores precários se transformou num voto maciço numa direita que defende a precariedade, desconstrói o Estado Social, aumenta o fosso entre os muito ricos e os muito pobres, entrega os sectores estratégicos a uma capitalismo sem rosto e sem alma?
            Muito simplesmente porque a Esquerda já não consegue convencer quase ninguém.
            Mas porque é que a Esquerda não consegue convencer quase ninguém?
            Porque a Esquerda enquistou num ciclo de decomposição!
            A Esquerda deixou de ser um conjunto de valores, um ideário para passar a ser uma casta de indivíduos bem falantes que se movimentam no poder servindo-se dum conjunto de mordomias espelhadas daquelas atribuídas a uma Direita feudal, mas que mexem melhor na promiscuidade entre o sector público e os interesses individuais.
            A Esquerda deixou de ser uma esquerda racional para ser uma esquerda libertária, em que a liberdade se confundiu com a anarquia, o irracional substituiu o equilíbrio e em que os deveres foram substituídos exclusivamente por direitos.
            Uma Esquerda sem regras, consumista, oportunista e hipócrita não funciona, ou melhor só funciona enquanto houver quem pague para os devaneios daqueles que se apossaram do poder promovendo a satisfação impossível dos desejos de uma massa acéfala que usa o voto como quem assiste a um jogo de futebol!
            Claro que esta Direita que nos governa há-de cair e a Esquerda regressará de novo ao poder.
            Só espero que entretanto a Esquerda compreenda porque é que falhou, que compreenda a realidade dum mundo irremediavelmente globalizado, que se torne sóbria, ecológica, sustentável, de modo a promover a felicidade individual promovendo a felicidade colectiva, que seja exemplo para poder fazer cumprir  regras, que seja solidária sem cair no facilitismo, que seja fraterna sem perder a autoridade e que seja humanista sem se esquecer que o mundo é feito de seres humanos que têm sentimentos, desejos e afectos individuais.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Portugal, um país em vias de subdesenvolvimento

Portugal, um país em vias de subdesenvolvimento

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução? a Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2012 às 11:50 ·
             Pedro Passos Coelho parece-me ser uma pessoa com convicções fortes e determinado a seguir um rumo que ele entende ser aquele capaz de retirar o país da caótica situação económica em que sem encontra, seguindo um modelo inspirado na escola neoliberal, ou talvez ultraliberal que por sua vez se inspirou na doutrina de Adam Smith do século XVIII, a qual não se mostrou capaz de resolver os problemas da economia e proporcionou um terreno para desenvolver uma doutrina de carácter contrário defendida por Marx no século XIX. Num sentido de aprimorar os conceitos, no final do século XX o liberalismo evoluiu para o neoliberalismo e o marxismo para a terceira via de Tony Blair.
            A crise que estamos a viver resulta essencialmente da saturação do endividamento promovido pela banca, que irresponsavelmente concedeu créditos com uma ganância suicidária, do ataque do dólar face ao euro e da falta de uma liderança que unifique o projecto europeu, em contraponto a um exacerbar dos nacionalismos que separam os europeus em bons e maus alunos da escola ariana.
           Vivemos uma situação dramática em que precisamos que o exterior financie a nossa economia, pois caso contrário não há dinheiro para pagar salários e pensões, sendo que para o conseguir é necessário honrar os compromissos assumidos com a chamada “troika,” no sentido de reequilibrar as contas públicas gastando menos.
           A receita do FMI para Portugal é semelhante à aplicada na Grécia e também na Irlanda – se bem que a situação da Irlanda seja totalmente diferente pois resulta de um problema conjuntural e não estrutural - porém, um excesso de austeridade gera uma recessão incontrolável que vai acabar por tornar impossível o pagamento aos credores nas condições negociadas.
            Podemos dizer que a culpa do estado a que chegamos é de José Sócrates, mas não podemos negar que a substituição do governo socialista da Grécia por um governo tecnocrático do agrado de Berlim e Paris não está a servir para nada. A Grécia caminha a passos largos para uma bancarrota adiável, mas inevitável, a qual vai causar certamente a efeitos colaterais em toda a Europa, principalmente em Portugal e restantes PIGS, não sendo de excluir uma desvalorização do Euro por falta de confiança dos investidores estrangeiros na moeda única.
            Assumidamente a estratégia de Pedro Passos Coelho para resolver os problemas estruturais de Portugal, é a via do subdesenvolvimento, do empobrecimento forçado e duma protecção social excessiva que tem de ser reduzida, materializada para já num acordo de concertação social que promove o desemprego e a precariedade, celebrado com o aval da UGT. Para Passos Coelho a salvação de Portugal passa por um Estado mínimo, por trabalho escravo,trabalho este que se deve aproximar cada vez mais das condições de trabalho da China e da Índia.
            Empobrecer, mas quanto?
            O Primeiro-ministro foi claro: Custe o que Custar!
            Custe o emprego, custe a dignidade, custe a família, custe a escola, custe a protecção social, custe mesmo a vida...
            Para Passos Coelho e assessores não há limite quantificável para o que temos de empobrecer.
            Temos?
            Sim, temos! Porque os seus amigos da grande finança nada têm a temer. Quem tem que pagar a crise empobrecendo miseravelmente é o povo e a classe média que caminha para a extinção!
            Todos os dias somos confrontados com notícias que confirmam um ataque sem quartel à classe média, que corte após corte, vê o seu salário reduzido de forma dramática, confrontada com o facto de não poder honrar os seus compromissos por alteração unilateral por parte do Governo de regras estabelecidas na Constituição Portuguesa. É um fenómeno recentemente tratado por Elísio Estanque, fenómeno esse que tende a piorar pois o governo vê na classe média a galinha dos ovos de ouro para pagar a factura da crise, sendo que esta classe que não beneficia de quaisquer apoios sociais, é sobrecarregada de impostos e vê-se de repente sem direito a nada. Além disso parece-me difícil aumentar a produtividade com incentivo negativos para quem trabalha que só favorecem a desmotivação.
            Exigir sacrifícios é aceitável quando isso serve para alguma coisa, mas é uma loucura exigir sacrifícios para pedir novamente sacrifícios, num ciclo de empobrecimento que certamente o vai deixar tristemente célebre na História de Portugal.
            A Europa e o mundo ocidental vivem uma crise gravíssima, de contornos inimagináveis e de desfecho trágico mas imprevisível.
            Portugal e a Europa precisam urgentemente de um Plano B, pois está mais que provado que o plano A de Austeridade, não vai funcionar, o plano C ainda está longe no horizonte, restando depois apenas o plano D de Desespero.
            Se a miséria progredir com temo que vá progredir, o povo não vai aguentar e vai sair para a rua sem controlo para fazer justiça pelas próprias mãos. Se não se conseguir inverter a espiral de empobrecimento, fome e miséria a tempo de se evitar essa fase, a classe política que abandone o país, porque o novo 25 de Abril vai ser vermelho não de cravos, mas de sangue.
            Passos Coelho foi eleito para resolver uma grave situação de crise. Pode ser obstinado e levar avante as suas reformas, custe o que custar, obrigar-nos a trincar a língua e chamar-nos piegas. Não pode é falhar!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Carnavais

Carnavais

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução?, sábado, 4 de Fevereiro de 2012 às 03:46
           A declaração do Primeiro-ministro dada a 3 de Fevereiro de 2012 de que não iria conceder Tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval dia 21 do mesmo mês é um sinal preocupante de impreparação do actual governo de Portugal. É evidente que quase ninguém compreenderia que um Governo que se propõe eliminar feriados simbólicos e relevantes para a Pátria, alinhasse com brincadeiras de Carnaval. O que não aceito é que o Governo de Portugal governe Portugal em perfeito espírito carnavalesco, sem rumo, sem soluções, cego, surdo, rumo a um abismo inevitável.
            Já todos sabemos que a tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval é uma tradição bem antiga e que algumas autarquias investem somas fabulosas em desfiles agendados para esse dia. Se o Governo entendia, e bem a meu ver, que este ano não seria concedida a habitual tolerância de ponto, deveria tê-lo feito atempadamente, antes do término do ano transacto, de modo a que as autarquias se preparassem e alterassem as datas dos desfiles para o domingo em vez de o fazerem na terça-feira. O Governo fez exactamente o contrário, discutiu a paulatinamente abolição dos feriados quando de repente se dá conta de que está a duas semanas do Carnaval e só nessa altura se lembra de avisar os portugueses de que não iria dar a habitual tolerância de ponto, com todas as consequências negativas e graves prejuízos económicos que a não atempada decisão iria causar. Este gesto é mais uma demonstração do perfeito espírito de improviso de um Governo que não sabe o que quer, ou se sabe o que quer não sabe como lá chegar, o que é dramático quando vemos o país a caminhar a passos largos para o abismo, seguindo-se a outros acto improvisados de avanços e recuos de que relembro a taxa social única, a meia hora de trabalho extraordinária no sector privado, as taxas moderadoras, o valor das horas extraordinárias na saúde, passando por episódios rocambolescos como o uso da gravata no Ministério da Agricultura.
            Nunca é demais relembrar que este actual Governo de Portugal resulta de um verdadeiro golpe de estado institucional patrocinado pelo actual Presidente da República, o qual fez os possíveis para correr à vassourada o Governo do Partido Socialista, invocando valores e razões que o tempo demonstrou que não passam de uma falácia.
O Presidente da República é o político que mais tempo esteve no poder, com mais responsabilidades na actual situação em que o país se encontra, que governou Portugal no tempo em que o dinheiro caía do céu às pazadas para ir cair na mão de amigos ou pseudo-amigos e que tem o brilhante curriculum de ter já conseguido “arrumar” com dois Primeiros-ministros, Sócrates e Santana Lopes, escorraçando o seu partido do poder numa altura em isso lhe seria conveniente para ter mais probabilidades de realizar a sua secreta ambição de ser Presidente da República, talvez dando corpo a um secreto desejo de ser o “Salazar” da Democracia.
            O navio tem o casco rombo e vai afundar. Provavelmente Passos Coelho - que me parece ser um político relativamente sério e com real vontade de mudar o país, apesar de não me rever nas suas opções politicas – não irá seguir os passos do seu antecessor, o nosso “Schettino”  que saltou borda fora rumando a Bruxelas e deixou o imediato ao leme. Não basta porém a ambição de mudar Portugal, se não José Sócrates já o teria feito. É preciso estar preparado, conhecer o terreno, ter sensibilidade social, faro político, capacidade negocial, espírito inovador, capacidade motivadora de novos comportamentos, visão estratégica perante e educação, cultura e sobretudo ter a noção de que apostar no bem-estar social não é um custo, é um investimento.
            Já é quase um dado adquirido que com este governo não vamos lá. Espero e desejo que o Partido Socialista seja capaz de compreender os desafios que tem pela frente, a capacidade de compreender que o mundo mudou e vai ainda mudar mais, que é necessário definir um novo patamar de serviços e de consumo que seja sustentável, que não entregue ao exterior sectores chave para a nossa auto-suficiência, que seja capaz de fazer cá dentro os bens essenciais que necessitamos no nosso dia-a-dia, que valorize o trabalho, que erradique a cultura do novo-riquismo saloio que nos põe a viver acima das nossas possibilidade, que crie uma mão-de-obra que seja uma mais-valia pela sua competência e não pelo seu custo, que seja capaz de entrar em mercados externos sem fugir ao fisco nacional, que combata a fraude e a evasão fiscal, que crie uma cultura que valorize a cidadania e o respeito pelo bem comum, pois caso contrário, com ou sem tolerância de ponto, o Carnaval vai continuar na política portuguesa.