segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Um País Refém

Vivemos hoje uma das mais complexas crises da história recente da humanidade, na qual valores antes tidos como inatos e inabaláveis são postos em causa em nome de compromissos económicos que retiram a soberania às nações.

Existe um amplo consenso sobre os direitos humanos e as principais liberdades e garantias dos cidadãos. É esse sentimento de liberdade e a aspiração legítima a uma vida digna que é posta em causa pelas actuais políticas internacionais. Desejamos liberdade para escolher o nosso destino esquecendo que um país para poder aspirar a ser verdadeiramente livre tem de garantir um conjunto de necessidades elementares entre as quais sobressai o seu sustento básico.

Um país que depende da assistência financeira externa não é um país independente. Um povo dum país cuja ajuda financeira depende da avaliação dos investidores é um povo escravizado. Um povo escravizado não tem direitos.

Para recuperarmos a nossa soberania temos de quebrar as grilhetas que nos agarram a uma dívida externa que não pára de crescer. Os donos do dinheiro impõe-nos mais austeridade para nos emprestarem mais dinheiro de modo a podermos satisfazer as nossa necessidades básicas, mas a austeridade afunda a nossa economia obrigando-nos a ter que dar mais para poder receber alguma coisa, entregando os sectores estratégicos nacionais a investidores internacionais, entregando-lhes igualmente os nossos bens e o produto do nosso trabalho diluídos em impostos que se somam a impostos sobre tudo o que possa ser fonte de receita fiscal.

É este o caminho adoptado pelo actual Primeiro-Ministro de Portugal que se encontra refém da sua própria política, a qual não é mais do que ajoelhar-se perante os mercados, colocando na posição de refém 10 milhões de portugueses que dependem da boa vontade dos mercados para não morrer à fome.

Infelizmente, na situação que nos encontramos e no momento actual, a alternativa imediata à política de Pedro Passos Coelho arrisca-se a ser o "Dia de não receber", ou seja, o dia em que não haverá um cêntimo para pagar salários pensões ou qualquer outra prestação social. Por outro lado, analisando os resultados da actual política, a sua a continuação torna a médio prazo inevitável essa fatalidade.

É por isso fundamental repensar a estratégia governativa a curto/médio prazo, de maneira a podermos recuperar uma auto-suficiência que nos permita não precisar dos outros para garantir que o nosso povo consiga ver pelo menos garantidos os de forma minimamente aceitável os instrumentos fundamentais para nomeadamente a nível da alimentação, energia, vestuário a saúde e a habitação, um pouco como disse Sérgio Godinho "Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação".

Para o conseguir inverter o rumo e fugir do abismo é mandatório em primeiro lugar sair da corte lisboeta e mergulhar sem medo no "Portugal profundo", aquele que não se manifesta nos blogs, não vai às manifestações mas contribui com o seu voto para a escolha do governo. Conhecer o seu sentir, as suas motivações, os seus desejos e aspirações, mas também as suas limitações é fundamental para construir um projecto sedimentado na pratica, na vivência do dia-a-adia, no “ser português”.

Não basta ler a cartilha escrita por outrem e adaptar o seu conteúdo a um continente onde não tem lugar. Há que ter novos horizontes, perceber nova a realidade resultante da globalização, ser dotado da capacidade para ver mais além, para poder ambicionar ir onde os outros não foram, percebendo que o tabuleiro onde se joga a economia mundial já não é o mesmo de há uns tempos atrás.

Para construir um novo caminho não bastam exercícios retóricos ou actos de fé que se limitem a mudar a cor do poder ou os actores do poder. É fundamental o engenho, a argúcia, a lucidez, o conhecimento exaustivo da realidade para urgentemente traçar uma estratégia exequível que nos salve do abismo e nos devolva a liberdade e a esperança.

Insistir numa cartilha errada mudando apenas a disposição dos parágrafos é tempo perdido. Afirmar a nossa identidade, apostar na auto-suficiência, construir novas pontes com os países a quem podemos ser úteis, parecem-me ser vectores essenciais para poder mandar calar os senhores do dinheiro, dar uma lição à Europa e ao Mundo, lançando a semente da liberdade, da tolerância, do respeito, da paz, pão, saúde, habitação, educação como estandarte da convivência pacífica entre os povos.

Temos de ter meios para poder ter a coragem de dizer aos senhores do dinheiro: “muito obrigado, mas não queremos ir por aí!”

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