segunda-feira, 12 de março de 2012

12M. Um ano... e depois?



            Passou um ano sobre o 12M e o que mudou?
            Chegou a Direita ao poder!
            Em Portugal e em Espanha!
            Como é que a revolta de jovens, mas não só, de trabalhadores precários se transformou num voto maciço numa direita que defende a precariedade, desconstrói o Estado Social, aumenta o fosso entre os muito ricos e os muito pobres, entrega os sectores estratégicos a uma capitalismo sem rosto e sem alma?
            Muito simplesmente porque a Esquerda já não consegue convencer quase ninguém.
            Mas porque é que a Esquerda não consegue convencer quase ninguém?
            Porque a Esquerda enquistou num ciclo de decomposição!
            A Esquerda deixou de ser um conjunto de valores, um ideário para passar a ser uma casta de indivíduos bem falantes que se movimentam no poder servindo-se dum conjunto de mordomias espelhadas daquelas atribuídas a uma Direita feudal, mas que mexem melhor na promiscuidade entre o sector público e os interesses individuais.
            A Esquerda deixou de ser uma esquerda racional para ser uma esquerda libertária, em que a liberdade se confundiu com a anarquia, o irracional substituiu o equilíbrio e em que os deveres foram substituídos exclusivamente por direitos.
            Uma Esquerda sem regras, consumista, oportunista e hipócrita não funciona, ou melhor só funciona enquanto houver quem pague para os devaneios daqueles que se apossaram do poder promovendo a satisfação impossível dos desejos de uma massa acéfala que usa o voto como quem assiste a um jogo de futebol!
            Claro que esta Direita que nos governa há-de cair e a Esquerda regressará de novo ao poder.
            Só espero que entretanto a Esquerda compreenda porque é que falhou, que compreenda a realidade dum mundo irremediavelmente globalizado, que se torne sóbria, ecológica, sustentável, de modo a promover a felicidade individual promovendo a felicidade colectiva, que seja exemplo para poder fazer cumprir  regras, que seja solidária sem cair no facilitismo, que seja fraterna sem perder a autoridade e que seja humanista sem se esquecer que o mundo é feito de seres humanos que têm sentimentos, desejos e afectos individuais.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Portugal, um país em vias de subdesenvolvimento

Portugal, um país em vias de subdesenvolvimento

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução? a Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2012 às 11:50 ·
             Pedro Passos Coelho parece-me ser uma pessoa com convicções fortes e determinado a seguir um rumo que ele entende ser aquele capaz de retirar o país da caótica situação económica em que sem encontra, seguindo um modelo inspirado na escola neoliberal, ou talvez ultraliberal que por sua vez se inspirou na doutrina de Adam Smith do século XVIII, a qual não se mostrou capaz de resolver os problemas da economia e proporcionou um terreno para desenvolver uma doutrina de carácter contrário defendida por Marx no século XIX. Num sentido de aprimorar os conceitos, no final do século XX o liberalismo evoluiu para o neoliberalismo e o marxismo para a terceira via de Tony Blair.
            A crise que estamos a viver resulta essencialmente da saturação do endividamento promovido pela banca, que irresponsavelmente concedeu créditos com uma ganância suicidária, do ataque do dólar face ao euro e da falta de uma liderança que unifique o projecto europeu, em contraponto a um exacerbar dos nacionalismos que separam os europeus em bons e maus alunos da escola ariana.
           Vivemos uma situação dramática em que precisamos que o exterior financie a nossa economia, pois caso contrário não há dinheiro para pagar salários e pensões, sendo que para o conseguir é necessário honrar os compromissos assumidos com a chamada “troika,” no sentido de reequilibrar as contas públicas gastando menos.
           A receita do FMI para Portugal é semelhante à aplicada na Grécia e também na Irlanda – se bem que a situação da Irlanda seja totalmente diferente pois resulta de um problema conjuntural e não estrutural - porém, um excesso de austeridade gera uma recessão incontrolável que vai acabar por tornar impossível o pagamento aos credores nas condições negociadas.
            Podemos dizer que a culpa do estado a que chegamos é de José Sócrates, mas não podemos negar que a substituição do governo socialista da Grécia por um governo tecnocrático do agrado de Berlim e Paris não está a servir para nada. A Grécia caminha a passos largos para uma bancarrota adiável, mas inevitável, a qual vai causar certamente a efeitos colaterais em toda a Europa, principalmente em Portugal e restantes PIGS, não sendo de excluir uma desvalorização do Euro por falta de confiança dos investidores estrangeiros na moeda única.
            Assumidamente a estratégia de Pedro Passos Coelho para resolver os problemas estruturais de Portugal, é a via do subdesenvolvimento, do empobrecimento forçado e duma protecção social excessiva que tem de ser reduzida, materializada para já num acordo de concertação social que promove o desemprego e a precariedade, celebrado com o aval da UGT. Para Passos Coelho a salvação de Portugal passa por um Estado mínimo, por trabalho escravo,trabalho este que se deve aproximar cada vez mais das condições de trabalho da China e da Índia.
            Empobrecer, mas quanto?
            O Primeiro-ministro foi claro: Custe o que Custar!
            Custe o emprego, custe a dignidade, custe a família, custe a escola, custe a protecção social, custe mesmo a vida...
            Para Passos Coelho e assessores não há limite quantificável para o que temos de empobrecer.
            Temos?
            Sim, temos! Porque os seus amigos da grande finança nada têm a temer. Quem tem que pagar a crise empobrecendo miseravelmente é o povo e a classe média que caminha para a extinção!
            Todos os dias somos confrontados com notícias que confirmam um ataque sem quartel à classe média, que corte após corte, vê o seu salário reduzido de forma dramática, confrontada com o facto de não poder honrar os seus compromissos por alteração unilateral por parte do Governo de regras estabelecidas na Constituição Portuguesa. É um fenómeno recentemente tratado por Elísio Estanque, fenómeno esse que tende a piorar pois o governo vê na classe média a galinha dos ovos de ouro para pagar a factura da crise, sendo que esta classe que não beneficia de quaisquer apoios sociais, é sobrecarregada de impostos e vê-se de repente sem direito a nada. Além disso parece-me difícil aumentar a produtividade com incentivo negativos para quem trabalha que só favorecem a desmotivação.
            Exigir sacrifícios é aceitável quando isso serve para alguma coisa, mas é uma loucura exigir sacrifícios para pedir novamente sacrifícios, num ciclo de empobrecimento que certamente o vai deixar tristemente célebre na História de Portugal.
            A Europa e o mundo ocidental vivem uma crise gravíssima, de contornos inimagináveis e de desfecho trágico mas imprevisível.
            Portugal e a Europa precisam urgentemente de um Plano B, pois está mais que provado que o plano A de Austeridade, não vai funcionar, o plano C ainda está longe no horizonte, restando depois apenas o plano D de Desespero.
            Se a miséria progredir com temo que vá progredir, o povo não vai aguentar e vai sair para a rua sem controlo para fazer justiça pelas próprias mãos. Se não se conseguir inverter a espiral de empobrecimento, fome e miséria a tempo de se evitar essa fase, a classe política que abandone o país, porque o novo 25 de Abril vai ser vermelho não de cravos, mas de sangue.
            Passos Coelho foi eleito para resolver uma grave situação de crise. Pode ser obstinado e levar avante as suas reformas, custe o que custar, obrigar-nos a trincar a língua e chamar-nos piegas. Não pode é falhar!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Carnavais

Carnavais

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução?, sábado, 4 de Fevereiro de 2012 às 03:46
           A declaração do Primeiro-ministro dada a 3 de Fevereiro de 2012 de que não iria conceder Tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval dia 21 do mesmo mês é um sinal preocupante de impreparação do actual governo de Portugal. É evidente que quase ninguém compreenderia que um Governo que se propõe eliminar feriados simbólicos e relevantes para a Pátria, alinhasse com brincadeiras de Carnaval. O que não aceito é que o Governo de Portugal governe Portugal em perfeito espírito carnavalesco, sem rumo, sem soluções, cego, surdo, rumo a um abismo inevitável.
            Já todos sabemos que a tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval é uma tradição bem antiga e que algumas autarquias investem somas fabulosas em desfiles agendados para esse dia. Se o Governo entendia, e bem a meu ver, que este ano não seria concedida a habitual tolerância de ponto, deveria tê-lo feito atempadamente, antes do término do ano transacto, de modo a que as autarquias se preparassem e alterassem as datas dos desfiles para o domingo em vez de o fazerem na terça-feira. O Governo fez exactamente o contrário, discutiu a paulatinamente abolição dos feriados quando de repente se dá conta de que está a duas semanas do Carnaval e só nessa altura se lembra de avisar os portugueses de que não iria dar a habitual tolerância de ponto, com todas as consequências negativas e graves prejuízos económicos que a não atempada decisão iria causar. Este gesto é mais uma demonstração do perfeito espírito de improviso de um Governo que não sabe o que quer, ou se sabe o que quer não sabe como lá chegar, o que é dramático quando vemos o país a caminhar a passos largos para o abismo, seguindo-se a outros acto improvisados de avanços e recuos de que relembro a taxa social única, a meia hora de trabalho extraordinária no sector privado, as taxas moderadoras, o valor das horas extraordinárias na saúde, passando por episódios rocambolescos como o uso da gravata no Ministério da Agricultura.
            Nunca é demais relembrar que este actual Governo de Portugal resulta de um verdadeiro golpe de estado institucional patrocinado pelo actual Presidente da República, o qual fez os possíveis para correr à vassourada o Governo do Partido Socialista, invocando valores e razões que o tempo demonstrou que não passam de uma falácia.
O Presidente da República é o político que mais tempo esteve no poder, com mais responsabilidades na actual situação em que o país se encontra, que governou Portugal no tempo em que o dinheiro caía do céu às pazadas para ir cair na mão de amigos ou pseudo-amigos e que tem o brilhante curriculum de ter já conseguido “arrumar” com dois Primeiros-ministros, Sócrates e Santana Lopes, escorraçando o seu partido do poder numa altura em isso lhe seria conveniente para ter mais probabilidades de realizar a sua secreta ambição de ser Presidente da República, talvez dando corpo a um secreto desejo de ser o “Salazar” da Democracia.
            O navio tem o casco rombo e vai afundar. Provavelmente Passos Coelho - que me parece ser um político relativamente sério e com real vontade de mudar o país, apesar de não me rever nas suas opções politicas – não irá seguir os passos do seu antecessor, o nosso “Schettino”  que saltou borda fora rumando a Bruxelas e deixou o imediato ao leme. Não basta porém a ambição de mudar Portugal, se não José Sócrates já o teria feito. É preciso estar preparado, conhecer o terreno, ter sensibilidade social, faro político, capacidade negocial, espírito inovador, capacidade motivadora de novos comportamentos, visão estratégica perante e educação, cultura e sobretudo ter a noção de que apostar no bem-estar social não é um custo, é um investimento.
            Já é quase um dado adquirido que com este governo não vamos lá. Espero e desejo que o Partido Socialista seja capaz de compreender os desafios que tem pela frente, a capacidade de compreender que o mundo mudou e vai ainda mudar mais, que é necessário definir um novo patamar de serviços e de consumo que seja sustentável, que não entregue ao exterior sectores chave para a nossa auto-suficiência, que seja capaz de fazer cá dentro os bens essenciais que necessitamos no nosso dia-a-dia, que valorize o trabalho, que erradique a cultura do novo-riquismo saloio que nos põe a viver acima das nossas possibilidade, que crie uma mão-de-obra que seja uma mais-valia pela sua competência e não pelo seu custo, que seja capaz de entrar em mercados externos sem fugir ao fisco nacional, que combata a fraude e a evasão fiscal, que crie uma cultura que valorize a cidadania e o respeito pelo bem comum, pois caso contrário, com ou sem tolerância de ponto, o Carnaval vai continuar na política portuguesa.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Não vos indigneis apenas: Ousai! Ambicionai!

Não vos indigneis apenas: Ousai! Ambicionai!

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução? a Sábado, 28 de Janeiro de 2012 às 18:28
      
       Stéphane Hessel escreveu um livro onde apela à indignação contra este modelo de sociedade que incentiva a exploração do homem pelo homem aumentando o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. É necessário encontrar um novo modelo de distribuição da riqueza quer privilegie uma grande classe média capaz de sustentar um Estado Social que proteja um número que se pretende cada vez menor de carenciados e que faça um combate implacável a meia dúzia de muito ricos que usam todos os expedientes legais para fugir aos impostos.
      É habitual ouvir dizer que a culpa do estado a que chegamos é dos políticos. Em Democracia os políticos são escolhidos pelo povo e se os achamos incompetentes não basta a indignação. É necessário intervir civicamente, contribuindo para a substituição desses políticos por outros mais capazes. Não basta exigir que os políticos resolvam os nossos problemas com ajuntamentos pontuais de indignados, ocupação de praças e folclore. É necessário pensar, reflectir, estar informado, discutir os problemas com o fim de encontrar soluções inovadoras que sejam sustentáveis de modo a resolver com eficácia um problema que devasta os direitos conquistados com suor e sangue por várias gerações desde a revolução industrial.
       O Estado de Bem Estar Social que hoje temos nas sociedades ocidentais não é inato, mas um benefício conquistado que só existe enquanto for preservado e para ser preservado necessita de ser viável num mundo com mais de 7 mil milhões de habitantes que reclamam para si os mesmos direitos que nós temos e que queremos para os nossos filhos.
       É legítimo ambicionar o impossível, pois muito do que temos hoje resulta da ambição e sonho de alguns que muitas vezes pagaram com a vida a utopia de um mundo mais justo e fraterno e que conseguiram tornar possível o impossível, mas depois é necessário muito trabalho, persistência, capacidade de enfrentar as vicissitudes de um trajecto inovador para tornar exequível a ambição legítima de viver num mundo melhor.
      Não basta uma inconsequente e confortável indignação. É necessário dar o passo em frente para aproveitar aquele 1 por cento de inspiração que só dá frutos com 99 por cento de transpiração. No entanto para conseguir 1 por cento de inspiração é por vezes necessário ouvir também 99 por cento de ideias sem nexo e saber fazer a filtragem de modo a aproveitar o trigo que está escondido no meio de tanto joio.
      Fazer revoluções poderá ser fácil, fazer com que elas dêem frutos e contribuam para melhorar o nível de vida das populações já é muito mais complicado e trabalhoso. Revoluções estéreis costumam terminar em ditaduras, com guerras pelo meio, como aconteceu com a revolução francesa que fez ascender Napoleão Bonaparte, com as consequências que sabemos.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sobreviverá a União Europeia a 2012?

Sobreviverá a União Europeia a 2012?

por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução? a Domingo, 15 de Janeiro de 2012 às 9:54
           
              Entramos em 2012, um ano que não verá provavelmente o final do mundo profetizado por algumas leituras do calendário maia (tal como não se verificaram as previsões do ano 2000…), mas que será sem dúvida um ano decisivo para Portugal, para a Europa e para o Mundo.
              Particularmente a nós, portugueses, espera-nos um ano difícil com a marca da austeridade, com a qual Portugal se cura ou morre da cura, numa Europa que se refunda ou se afunda.
             Os vaticínios relativos com que a  presente União Europeia se vê confrontada nada têm a ver com aquele apaixonado sonho que sucedeu ao maior e mais sangrento conflito armado do planeta.
            A II Guerra Mundial deixou como herança uma Europa arrasada que sucumbira aos nacionalismos exacerbados e o emergir de duas super potências, a União Soviética e os Estados Unidos da América.
            Este sangrento conflito foi o mais grave de todos os que envolveram ciclicamente ao longo da história os povos europeus, divididos em reinos e impérios que se sucediam uns aos outros,  compostos por gentes de falar, hábitos, costumes e temperamentos diferentes, os quais cultivam rivalidades seculares entre si.
            Durante o processo de reconstrução da Europa foi ganhando corpo a ideia de uma Europa unida que pudesse ser um local de paz e prosperidade de modo a evitar uma terceira guerra mundial.
            A primeira associação foi a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço criada em 1951 por um conjunto de seis países: França, Itália; Alemanha Ocidental, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Esta associação deu origem à CEE criada em 1957 pelo tratado de Roma. Em 1971, o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca juntaram-se à CEE à qual aderiram posteriormente Grécia, Portugal e Espanha.
            O projecto europeu inicial tinha como objectivo construir um espaço comum que beneficiasse todos os cidadãos dos países envolvidos.
            Em 1999 a União Europeia parecia já estar suficiente madura para adoptar uma moeda própria, tendo sido criado o Euro.
            Para garantir a estabilidade do Euro de modo a se tornar uma moeda de referência mundial equivalente ao Dólar americano foi exigido um aos países aderentes um conjunto de medidas que se revelaram incomportáveis para os países periféricos. Devido à sua especificidade própria, os países do sul da europa não conseguiram acompanhar o ritmo dos seus parceiros do norte e para se manterem no pelotão da frente foram recorrendo a artimanhas fiscais que iam enganando o deficit.
            O alargamento a leste da união europeia incorporou povos com salários mais baixos e melhor nível educacional, os quais passaram a competir com os países do sul, levando a uma deslocalização de empresas para estes países.
            Por outro lado, a globalização e o acirrar do consumismo levaram a deslocalização da produção das grandes empresas para a China.
            A crise de 2008 mergulhou os EUA e a UE numa crise só comparável à de 1929 a qual atingiu com particular dureza os países com mais problemas estruturais.
            Em vez de responder como um todo, a União Europeia escolheu penalizar os estados que considerava prevaricadores, tornando insuportável a vida dos seus cidadãos, obrigados a fazer cada vez mais sacrifícios em nome de uma austeridade que só agrava as condições de vida da população e nada tem resolvido.
            Verifico com pesar que há um ressurgir dos nacionalismos exacerbados, aproveitado pelos especuladores para asfixiar as populações, de modo se apossarem de todas as suas riquezas, para engrandecer o seu património.
            A falta de solidariedade dos grandes da Europa para com os pequenos em dificuldades, ao contrário do que pensam, não os põe a salvo da crise, apenas os fragiliza, pois à medida que os pequenos vão caindo, mais facilmente se tornarão presas dos especuladores que tem como religião, o dólar e como princípios, a falta de princípios e de ética.
            Para salvar o Euro, a União Europeia não se preocupa com os direitos de milhões de pessoas que sempre deram o seu melhor para que o seu país funcionasse e não tem culpa que milhões de Euros tenham circulado em negócios menos claros que beneficiaram, apenas alguns, bem encostados ao poder politico.
           Estes mesmos senhores para salvar o seu promissor património vão compramdo alguns grilos falantes para dizer que ou o Euro ou o caos, como se antes do Euro nada existisse...
            Portugal tem mais de oitocentos anos de história e sobreviveu a várias crises. Não foi na Europa que Portugal conseguiu o seu apogeu, mas sim quando fez justamente o caminho contrário, enfrentando os oceanos para expandir os seus domínios.
            Para fazer face a uma Europa cada vez mais germano-centrica, mais egoísta, menos solidária, têm forçosamente de ser encontrados novos caminhos.
            Ou a europa reencontra o seu espirito inicial ou opta por caminhar para a sua implosão, provavelmente violenta.
            Resta-nos contudo o consolo relativo de que por pior que seja o que nos espera haverá sempre sobreviventes.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Escravatura auto-instituída


por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução?, domingo, 20 de Novembro de 2011 às 11:50
    
        Uma canção dos “Deolinda” lançou o mote para discussão sobre uma realidade que assola a juventude portuguesa e em geral toda a juventude do mundo ocidental. Uma geração cada vez mais qualificada que vai coleccionando títulos académicos é paradoxalmente confrontada com regimes de trabalho mais exigentes e menos remunerados que originaram o desabafo “para ser escravo é preciso estudar”.
            A autoproclamada “geração parva” é filha da geração que teve a melhor qualidade de vida de que há memória e que teve a oportunidade de educar os seus filhos e de lhes dar as melhores qualificações académicas, esperando que lhes fosse reservada uma qualidade de vida ainda superior à sua, que por sua vez tinha já sido melhor que a dos seus pais.
            Por muito cruel que possa ser o nosso destino, fomos nós mesmos que demos o nó da corda que agora se coloca sobre o nosso pescoço pronta a esticar, caso não aceitemos ser tratados como mercadoria por quem manda no dinheiro.
            Ao substituirmos os valores tradicionais por outros que hipervalorizam os bens materiais, as marcas “premium”, as últimas novidades tecnológicas, a moda, a aparência, a futilidade e o supérfluo, tornando a vida uma competição sem regras para alcançar o melhor que as agências de marketing nos querem impingir, subvertemos a espinha dorsal dos princípios que sustentam os pilares básicos duma sociedade solidária. Hoje em dia as pessoas valem não pelo que são, mas por aquilo que aparentam, numa escalada consumista que tudo parece justificar.
A actual sociedade perdeu o fio condutor de uma componente espiritual que moldava um conjunto de comportamentos, voltando-se apenas para o imediato, e associada à fácil modelação das leis que regulam os tribunais, deu fulgor à capacidade de explorar o homem pelo próprio homem.
            A ganância das grandes multinacionais e do sistema bancário induziu uma espiral de consumo de bens ou serviços, esgotando de forma irracional a nossa capacidade de endividamento.
            Para aumentar o volume de vendas e consequente aumento de dividendos, os grandes grupos económicos batalham todos os dias na procura de produtos cada vez melhores e a custos cada vez mais reduzidos.
            Para conseguir preços mais baixos para produtos com cada vez mais qualidade a solução passa, por um lado, por aumentar a escala da produção, conseguida através da construção de grupos económicos cada vez maiores através de aquisições e fusões entre empresas e passa por outro lado pela diminuição dos custos do trabalho conseguida com a redução do número de trabalhadores e respectivos salários. Temos assim muito mais exemplares do mesmo artigo produzido por menos trabalhadores que ganham vencimentos mais pequenos, para o que muito contribuiu a conseguida deslocalização da produção para países onde impera a mão-de-obra barata.
            Com a globalização os grandes grupos económicos conseguiram algo excelente para o consumidor: hoje em dia tem acesso aos mais recentes gadgets de sofisticada tecnologia a custos acessíveis, bastando para isso comparar o que custam e o que custavam artigos equivalentes há 10 anos atrás (telemóveis, TV, computadores portáteis, etc).
            Só que esta maravilha tem um pequeno senão: o consumidor só consome se tiver dinheiro e para conseguir a contracção de custos, muitos trabalhadores foram lançados para o desemprego e os que trabalham são obrigados a trabalhar em condições cada vez mais precárias.
            Para satisfazerem os seus interesses como consumidores, os ocidentais condenaram os seus postos de trabalho, oferecendo-os aos povos que em regime de quase escravatura enchem as prateleiras das nossas superfícies comerciais com produtos de qualidade a preços da china, consumindo-os sem se importar em que condições foram produzidos. Se calhar, os brinquedos que vamos dar aos nossos filhos no Natal foram feitos por crianças da mesma idade que trabalham horas a fio como verdadeiros adultos, mas isso não nos parece importunar a nossa consciência…
Se nada for feito em contrário, aos europeus só restará austeridade sobre austeridade e brevemente estarão tão pobres que não terão dinheiro para comprar os produtos a que habituaram, nem sequer para ter acesso aos serviços públicos de qualidade que durante décadas consideram garantidos e inalienáveis.
É evidente que num planeta com 7 mil milhões de habitantes, o dinheiro que começa a aparecer nos países emergentes tem de vir de algum lado e a capitalização das novas economias tem de vir da descapitalização das velhas economias.
De momento apenas os países periféricos estão a pagar a factura da globalização, mas ela vai acabar por chegar aos países mais industrializados, mais tarde ou mais cedo.
Para evitar soluções como as de 1939/1945 é urgente criar um novo paradigma de sociedade que permita a satisfação dos naturais anseios de uma vida com a qualidade que a tecnologia permite e da satisfação das ambições legítimas dos que querem progredir na sua vida profissional, abrindo caminho a novos horizontes do muito que a ciência ainda esconde, mas que isso seja feito de um modo mais harmonioso e equilibrado com os recursos do planeta.

Europa a ferro e fogo... Brevemente num televisor perto de si?


por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução?, sábado, 5 de Novembro de 2011 às 13:01
   
         Com a bancarrota disfarçada da Grécia, o colapso iminente de Portugal, a pressão dos mercados sobre Itália e Espanha traduzidas em taxas de juro a crescer progressivamente, a Europa está a ser arrastada para um descontrolado redemoinho que a ameaça engolir a qualquer momento.
            A tentativa de colocar a Europa a marchar ao ritmo do compasso alemão está a deixar para trás os países periféricos que se vêem obrigados a aplicar austeridade sobre austeridade para tentar compor as contas públicas, num exercício que mais não resulta do que no empobrecimento forçado das classes médias desses países, assaltadas pelos governantes para pagar contas que não cessam de aumentar.
            A diabolização do funcionário público é o primeiro passo de uma estratégia que visa destruir o Estado Social, diminuir os custos do trabalho e os direitos dos trabalhadores num retrocesso sem precedentes que nos remonta ao princípio da revolução industrial.
            Numa primeira fase a Europa quer ver-se livre dos gregos para salvar a Grécia, depois irá querer ver-se livre da Grécia para salvar a Europa, tal como o fará com Portugal, seu secular companheiro de desgraça.
            Pensarão os alemães e os franceses que a exemplar punição dos PIGS porá a salvo o seu nível de vida e os seus direitos sociais e que as suas fortes economias estarão imunes aos ataques dos mercados, mas tal não passa de uma ilusão pois o empobrecimento forçado da classe média dos países periféricos vai levar a um êxodo dos profissionais mais qualificados para os países mais ricos que acabarão por competir com a mão-de-obra local criando condições para uma desvalorização do trabalho nesses países, proporcionando às respectivas empresas meios para se tornarem mais competitivas a nível de mercado. Por outro lado, se a perda de poder de compra dos PIGS vai diminuir o volume de importações desses países relativamente à Alemanha e França, também por outro lado irá diminuir as importações de produtos chineses, cuja exportação potencia a importação chinesa de produtos de luxo alemães, com efeitos negativos na balança de transacções Alemanha/China.
            Nos países intervencionados, a imposição de mais austeridade só deixa a escolha entre miséria e miséria, levando o povo ao desespero o que vai propiciar ambientes favoráveis a uma contestação violenta generalizada, ainda mais com uma finada classe média proletarizada à força, forte indutor das revoluções que se sabe como começam, mas ninguém sabe como acabam, e que poderão atingir padrões semelhantes a uma guerra civil a qual culminará fatalmente em regimes totalitários a nacionalismos exacerbados  e a conflitos entre países e etnias.
            Se olharmos para a História confirmaremos que a Alemanha que já provocou duas guerras mundiais e quando lhe forem aplicadas pelos donos do capital as receitas que agora estão a impor aos países periféricos, poderão vir à tona sentimentos xenófobos que vimos recentemente na antiga jugoslávia, tendo em conta a crescente população emigrante nas duas mais desenvolvidas economias europeias, principalmente se aqueles a que Sarkozy apelidou de escumalha se revoltarem e voltarem a incendiar as ruas das principais cidades da Europa.
            Uma Europa em conflito é um terreno propício a uma nova intervenção redentora dos EUA que a vergarão aos seus interesses como fizeram na Líbia, Iraque e Afeganistão, intervenção esta que será paga com a reconstrução europeia feita pelas empresas americanas e que é ao mesmo tempo uma tenebrosa solução para um planeta superpovoado.
            Só uma nova Europa, construída na base da solidariedade, que trate de igual modo todos os seus habitantes, com uma administração comum, uma política externa comum, uma língua oficial comum, umas forças armadas comuns livres do cordão umbilical castrador que as subjuga aos interesses dos EUA, só esta Europa será capaz de bater o pé aos EUA (e às potencias emergentes) e defender o interesse dos europeus.
            Os alemães têm de perceber que só defendendo a Europa como ela foi pensada inicialmente é que poderão defender os seus interesses nomeadamente alargando o perímetro de segurança das suas fronteiras, caso contrário voltarão a ficar isolados e mais facilmente vulneráveis a ameaças exteriores.
            A solução para a crise europeia tem de ser primariamente política, tomada por pessoas com capacidade de contextualização histórica e social, com visão estratégica global, com capacidade de mobilização de consciências de modo a que os interesses imediatos não condicionem os interesses mais futuros e duradouros de um ambicioso projecto de criar um espaço de prosperidade, tolerância e paz numa região do globo rica em património histórico e científico, mas também sede dos maiores e mais sangrentos conflitos que assolaram o planeta.