terça-feira, 20 de dezembro de 2011

E o Euro, pá?

     
           A criação da moeda única europeia formalizada em 1999 e materializada em 2002 parecia um grande passo em frente na integração da economia europeia e um factor de coesão que possibilitaria uma harmonização do nível de vida dos habitantes da zona euro.
            As perspectivas mais optimistas da utilização da nova moeda foram logo de início ensombradas pela rápida inflação de alguns preços em que 100 escudos foram “equiparados” a 1 euro ou 50 escudos a 50 cêntimos (enquanto os vencimentos se mantiveram iguais).
            A estabilidade da moeda única implicou um grande controle do deficit público por parte dos países aderentes, impedindo o controle artificial promovido pela desvalorização da moeda.
            O controlo mais apertado dos orçamentos levou a políticas mais restritivas por parte dos governos e quando não era possível, alguns países recorreram a “habilidades” para chegar aos valores impostos por Bruxelas.
            A recente crise económica mundial com epicentro em Nova Iorque pressionou orçamentos já no “vermelho” e o resultado prático é que as economias mais débeis da zona euro não aguentaram o andamento imposto pelas suas irmãs mais desenvoltas.
            Consecutivamente a Europa foi deixando cair os elos mais fracos, Grécia, Irlanda e Portugal.
            Concretizado o abate de Portugal, o “senhor que se segue” é a vizinha Espanha, que tal como Portugal se afirma mais protegida que a vítima anterior...
            Os países do norte e os países do sul têm maneiras próprias de viver em sociedade: mais rigorosos a norte, mais “desenrascanço” a sul.
            Pretender afinar a economia dos países do sul pelo diapasão germânico talvez seja um desejo excessivamente optimista de uma moeda única que o parece cada vez menos numa União Europeia cada vez mais desunida em que até há finlandeses verdadeiros e outros que não o serão.
            Talvez a Espanha se aguente, mas se esta cair provavelmente outro país se seguirá no dominó pré-programado: a Itália?
            Talvez não tarde muito a que o Euro seja apenas o Franco/Marco e depois apenas o Marco...
            É bem possível que na fuga para a frente dos burocratas de Bruxelas comandados pela Alemanha acabe por excluir Portugal e afins da moeda única.
            Qual a solução?
            A solução mais à vista é que as medidas propostas pelo FMI/UE sejam eficazes e permitam uma retoma da economia, a qual me suscita algumas dúvidas à recessão inevitavelmente associada às políticas de austeridade, políticas que me parecem estar mais direccionadas a garantir o retorno do investimento do que permitir a recuperação económica dos estados intervencionados.
            Essa solução implicaria mudar completamente de vida e correr atrás duma Alemanha que nos deixa cada vez mais para trás, num desígnio de fé apoiado numa força que por vezes surpreende e já nos elevou várias vezes ao longo da História.
Uma solução de recurso, que talvez não seja de excluir, seria a criação duma moeda própria para os países do sul, com uma valorização/desvalorização controlada por Bruxelas, uma espécie de Euro de segunda mas que se adaptasse melhor à realidade dos países do sul.
            Analisando comportamento dos mercados, o individualismo dos vários estados da União Europeia, a actuação dos respectivos líderes e os vícios da nossa economia, temo que mais tarde ou mais cedo sejamos forçados a regressar ao Escudo, a um Portugal rural e sem futuro onde se nasce para poder emigrar. Teremos provavelmente como parceiros a Grécia e se calhar os demais PIGS... e o retorno às moedas nacionais, isolando a Alemanha (e talvez a França ou a Grã-Bretanha). Será que então o Euro/Marco não terá sido ainda completamente ofuscado por outra estrela que brilha cada vez mais forte a oriente?

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