terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A propósito dos resultados eleitorais do passado dia 5 de Junho


            Os presentes resultados eleitorais mostram de uma forma clara e inequívoca que não basta uma boa retórica e uma imagem cuidada para vencer umas eleições. Mostram também que não é repetindo vezes sem conta os malefícios do chumbo do PEC IV e acenando o bicho-papão do ultra-liberalismo que se consegue conquistar um povo desiludido com o aumento de impostos, com o aumento do desemprego, com o encerramento de urgências, de maternidades e de escolas, com a supressão do abono de família, com a facilitação dos despedimentos, com a introdução de portagens nas SCUT e com a diminuição de salários. O povo poderá eventualmente ser levado por folclore, mas não é masoquista e, se não pode  deixar de levar com o chicote nas costas e carregar com a canga, pelo menos resolveu mudar a mão que o castiga.
            José Sócrates teve a coragem de tentar dar um novo rumo ao país, promover mudanças significativas na pesada e lenta máquina burocrática do Estado, traçar um rumo para promover o desenvolvimento do país, apostando, e bem, na qualificação profissional, nas novas tecnologias, nas energias renováveis e na reorganização da Administração Pública e Serviços Públicos.
            O governo reformista de José Sócrates teria prosseguido no bom caminho se não fosse – na minha opinião - tão autista, “tecnicocêntrico”,  se tivesse respeitado mais as pessoas que foram trucidadas pelas mudanças sem que tivessem feito algo para o merecer – danos colaterais em qualquer reforma a executar – se tivesse dado mais  prioridade a  gestores competentes e menos a gestores obedientes, se admitisse que nem sempre os resultados são aqueles que esperamos e que por vezes é necessário corrigir a trajectória, enfim, se tivesse apostado um pouco mais na humildade e no diálogo.
            É importante fazer reformas, o país precisa de reformas estruturais, mas é necessário ter a preocupação de envolver as pessoas nessas reformas de modo a que elas sintam que o resultado final dessas reformas é um Portugal mais justo, mais próspero e onde se viva com mais qualidade.
            Os resultados eleitorais mostram claramente que não foi essa a percepção dos portugueses, os quais optaram por se afastar do Partido Socialista e entregar o seu voto a uma incógnita em que parecem não acreditar totalmente chamada Pedro Passos Coelho.
            O Partido Socialista é um grande partido português e há-de certamente regressar ao poder pois é o bastião de um estado solidário, fraterno, com preocupações sociais, defensor inabalável do Estado Social, valores de que os portugueses não querem abdicar. Espero sinceramente que saiba retirar as ilações deste desaire eleitoral e se reaproxime da sua base de apoio de modo a merecer de novo a confiança dos portugueses.

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