terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Mobilizar os Partidos Socialistas Europeus de modo a encontrar uma solução eficaz para a crise, dentro e fora da Europa


por Socialismo no Século XXI: uma Utopia, uma Mentira ou uma Solução?, domingo, 2 de Outubro de 2011 às 11:22



            A actual crise económica tem sido já bastante estudada e as suas causas discutidas. Factores como o sobreendividamento motivado pela ganância do lucro fácil da banca fomentando créditos para tudo e mais alguma coisa, a deslocalização de postos de trabalho para países com rudimentares padrões de protecção social, a complacência do poder político e outros tantos factores contribuíram para um fácil diagnóstico do ponto onde chegamos e para nos fazer suspeitar que dias piores nos aguardam.
            Seria de esperar que uma crise que dificulta a vida aos trabalhadores, corrói o Estado Social, levasse os cidadãos a procurarem o apoio dos partidos de esquerda, mas, paradoxalmente o que se verifica é uma ascensão em toda a Europa dos partidos de direita e uma “vassourada” geral dos partidos socialistas europeus, que acabam por arcar com o ónus da culpa pelo estado a que chegamos.
            As receitas da Direita internacional para resolver a crise assentam em políticas de mais e mais austeridade, diminuindo a despesa pública e contraindo o Estado Social a uma amostra residual do que era até bem pouco tempo atrás.
            A Grécia é um exemplo e laboratório de testes que demonstram que as soluções apontadas pelos ideólogos a soldo dos grandes grupos económicos para resolver a crise só acrescentam crise à crise, aumentando o número de trabalhadores desempregados, diminuído o consumo, desacelerando a economia, contraindo o PIB. A solução miraculosa para resolver os deficits crónicos das contas públicas dos estados em dificuldades (nos quais tem de se incluir os Estados Unidos...) passa por aumentar as exportações… Sendo assim, Portugal tem de aumentar as exportações, a Grécia tem de aumentar as exportações, a Irlanda tem de aumentar as exportações, os Estados Unidos têm de aumentar as exportações, etc...
            Será que os recursos do planeta conseguem aguentar uma tão grande sobrecarga de aumento de exportações para aumentar PIBs de modo a equilibras as contas públicas dos países afectados?
            E exportar para quem? Para os países emergentes que têm custos sociais de produção muito inferiores aos nossos?
            Numa União Europeia cada vez mais desunida e individualista impõe-se mudar o rumo.
            Não é apenas o Partido Socialista de Portugal que precisa de iniciar um novo ciclo, mas sim todos os Partidos Socialistas europeus que devem dar início a uma reflexão sobre como foi possível chegar até aqui e principalmente como podemos sair desta crise mantendo uma sociedade solidária, que respeite os direitos dos trabalhadores.
            Para situações novas são necessárias respostas novas. Se é certo que o modelo ultra-liberal só vai agravar as dificuldades dos Europeus, aumentar as assimetrias quer intra-estado quer entre estados, é também certo que os socialistas europeus só poderão ambicionar ser parte da solução do problema se ousarem soluções inovadoras.
            Não entendo que faça sentido caminharmos no sentido de nos auto-escravizarmos criando desemprego para poder pagar cada vez menos a quem trabalha, que por sua vez terá que trabalhar maior número de horas e mais anos que fariam falta a uma camada jovem altamente qualificada condenada a viver na casa dos pais.
            Não me parece também que possamos continuar a encher as superfícies comerciais de produtos de baixo custo e ignorar os custos sociais desses produtos.
            É preciso desmontar todo o modelo neo-liberal apadrinhado pelos socialistas que se iludiram com a Terceira Via de Blair, é preciso regressar aos anos sessenta e descobrir porque é que a sociedade prevista para o ano 2000 não se concretizou.
            Só fazendo uma análise retrospectiva de tudo o que devia ter sido mas não foi, só regressando à raiz do problema podemos construir um caminho que permita construir uma sociedade solidária, que respeite os trabalhadores, que respeite a dignidade humana, que se inspire na ética e que tenha em vista o bem-estar do comum dos cidadãos e não apenas o lucro de alguns.
            Provavelmente teremos de repensar o nosso actual padrão de bem-estar baseado no consumo, descendo um ou dois degraus, mas ganhando em contrapartida mais tempo livre e outro tipo de qualidade de vida que dispense os últimos gadgets de moda, os símbolos de status, as marcas prémium, mas que nos garanta uma vida socialmente mais saudável.
            Se não conseguirmos, entre os socialistas e democratas, encontrar a fórmula mágica que trave o ciclo de autodestruição que iniciamos seremos co-responsáveis de uma provável implosão bélica da união europeia, equivalente à que aconteceu em 1939.

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